quinta-feira, 20 de agosto de 2015

JUSTIÇA DE GÊNERO E A PREGAÇÃO DA IGREJA - Texto P. Dr. Mauro B. de Souza - português e espanhol

IV Congresso Latino-Americano de Gênero e Religião
História, Saúde e Direitos

Justiça de Gênero e a Pregação da Igreja

Prédio H, 202
São Leopoldo, RS, 6 de agosto de 2015

P. Dr. Mauro B. de Souza

Estabelecendo pontos de partida
A sabedoria homilética, que acumula séculos de prática e de reflexão, ensina que existem somente três assuntos importantes para a pregação: a vida, a morte e tudo que existe entre uma e outra, incluindo o antes, o durante e o depois. Ou seja: tudo diz respeito à pregação. Tudo é objeto da pregação. Tudo é sujeito da pregação. Tudo tem a ver com a pregação.
Para efeitos da nossa conversa, pregação é o discurso da Igreja: tudo aquilo que a Igreja ou as pessoas de fé dizem, fazem ou silenciam. Pregação é a voz da Igreja, são suas manifestações, seu trabalho diaconal, suas tentativas de comunicação. Prédica é uma das formas pelas quais a Igreja prega. Prédica é uma reflexão que nasce de, passa por ou conduz a um texto bíblico, direcionada a uma comunidade reunia em oração.
Para que a pregação possa acontecer, pelo menos três elementos são indispensáveis: o conteúdo, a forma e o contexto. É fundamental ter o quê se quer pregar (a experiência, o conteúdo, o convite, a ideia, o ensinamento, a motivação); é igualmente importante dominar o como se vai pregar (o método, o jeito, o estilo, a forma), e, por último, mas não menos importante, é preciso saber em que contexto se dará a pregação (onde, com que pessoas, em que situação, em quais meios). A pregação surge a partir do encontro destes três fatores: o quê, o como e o quando. Claro, desnecessário dizer que, acima de tudo, está a vontade e o poder de Deus: é Deus quem decide se aquilo tudo que se preparou, se intencionou, se estudou, irá ou não funcionar. Mas nós podemos ajudar; nós podemos trabalhar para aumentar as chances de que Deus use nosso trabalho para comunicar sua Palavra. Ainda vale a antiga regra: uma hora de preparação para cada minuto proferido do púlpito!
Podemos pensar em pelo menos quatro funções da pregação: ensinar, desafiar, confortar e celebrar. Mesmo que elementos de cada uma destas quatro funções estejam presentes num mesmo evento, uma delas se sobressairá. Em uma alocução de sepultamento, por exemplo, é muito desejável que o elemento do conforto se sobressaia. O contexto da despedida não é um lugar adequado para desafiar, muito menos para celebrar. O contrário acontece num culto de ação de graças pela colheita, por exemplo. Ali, o aspecto mais desejável é a celebração da vida e da gratidão.
Prédica é um evento. Ela acontece, nem na cabeça ou pela voz da pessoa que prega, nem no texto cuidadosamente preparado, nem mesmo nas páginas da bíblia, mas acontece no ouvido de quem ouve. Esta foi, na minha modesta opinião, a grande mudança de paradigma do movimento que recebeu o nome de nova homilética (que é dos anos 60 e 70 e, portanto, nem tão nova assim).
Prédica acontece no tempo, não no espaço. É a união daquilo que é dito, não dito, aquilo que é transmitido pelo corpo e pelo jeito da comunicar, mais aquilo que o meio produz, mais aquilo que está nos corações e nas mentes das pessoas que ouvem. Ou seja: prédica é o produto final, é aquilo que fica, é aquilo que se leva pra casa. Por mais esforço que eu tenha desprendido, por mais lindos que sejam os versos e os parágrafos que levei madrugadas produzindo, se não encontrar um jeito apropriado de dizer, e no momento certo de dizer, posso ter desperdiçado uma boa chance de proporcionar um encontro das pessoas com aquilo que elas definem como sagrado e importante.
Portanto, a pregação começa com o ouvir. A pregação precisa levar em conta as pessoas, seus costumes, seus jeitos, suas formas de se comunicar, suas capacidades e habilidades, a situação em que vivem. Não significa que a mensagem não possa ou não deva trazer propostas de mudança ou novidade. Precisamos lembrar que o evangelho é uma boa nova, uma boa notícia... é isso é uma novidade em um mundo cheio de des-graça. Aqui entra o papel do evangelho de questionar jeitos, costumes, normas, culturas... aqui entra o poder da pregação de falar sobre temas que são intitulados como temas-tabu, como a desigualdade e injustiça de gênero, por exemplo. Em muitos contextos, a injustiça de gênero é tão arraigada, tão forte, que é preciso aprender a dar nome a ela.
Ao ouvir, a pessoa que prega aprende por onde andam as pessoas, em quê acreditam, o que as aflige, o que lhes traz sofrimento, com o quê se alegram. Mas esse ouvir precisa ser construído, precisa ser praticado. É preciso presença, é necessário fazer-se presente na vida das pessoas, especialmente nos momentos difíceis. Confiança é palavra-chave. É preciso conquistar confiança.
Antes de pregar, portanto, é preciso ouvir. Isso vale, obviamente, para o texto bíblico.É preciso ouvir o texto, deixá-lo falar, abrir-se paraas surpresas que decorrem deste ouvir aparentemente descompromissado. Não ouvir o texto significa usá-lo para justificar a própria verdade.
Dados este elementos fundantes, vamos agora refletir sobre o nosso tema em particular.


Justiça de gênero e a pregação da Igreja
Justiça de gênero, na minha opinião, é um dos objetivos mais nobres a serem buscados pelo trabalho da Igreja e, portanto, pela sua pregação. Ela envolve:
a)    A afirmação de que justiça de gênero é boa e saudável para todas as pessoas.
b)    A afirmação de que injustiça de gênero é uma construção social e que, portanto, pode ser desconstruída.
c)     A autodeterminação das pessoas em afirmarem seu próprio gênero;
d)    A equiparação de direitos entre homens, mulheres e demais gêneros;
e)    A extinção de privilégios, tratamentos diferenciados, sexismos e violências.
f)      A criação de novas linguagens, inclusivas, não pejorativas e respeitosas.

Começa bem antes do púlpito
Uma das pesquisas mais abrangentes, jamais feita, sobre pregação fez a seguinte pergunta às pessoas que frequentavam a Igreja: o que você espera de quem prega? A mais avassaladora maioria respondeu: “queremos ouvir uma pessoa de fé falando”.
A resposta intrigante parece óbvia, mas não é. Apessoa que prega precisa ser a primeira a acreditar naquilo que diz. Precisa ter convicção, precisa ter incorporado no seu ser aquilo que está dizendo.
Uma pessoa de fé falando aponta para a coerência entre atos e palavras da pessoa que prega. Coerência é um elo absolutamente determinante para que haja a comunicação. Sou o que prego e prego o que sou. Fora disso, há pouquíssimas chances de conexão.
A pregação, portanto, já começa muito antes do púlpito. Começa lá na fila do supermercado, na forma como olho as pessoas e na forma como interajo com elas. Começa na visita que faço às pessoas doentes quando estão acamadas, fragilizadas e vulneráveis. Começa no almoço comunitário onde participo da equipe que lavou a louça.
É preciso conectar-se com as pessoas. Isso não significa tentar, artificialmente, ser igual a elas, mas colocar-se ao lado, praticar até aprender a ouvir, sem querer simplesmente citar as respostas que se aprende nos livros ou nas buscas no Sr. Google.

Pregação como possibilidade de quebrar o silêncio
Injustiça, na forma de desequilíbrio de gênero, é um pecado tão fortemente arraigado que sequer é percebida. Muitas pessoas nascerão, viverão e morrerão sem sequer terem percebido que há enormes desigualdades e desequilíbrios de gênero. Homens vão continuar chegando em casa depois do “trabalho cansativo” que tiveram nas suas oito horas diárias. Vão continuar se jogando no sofá e pedindo janta, e sequer notarão que suas esposas, naquele mesmo dia, acordaram mais cedo, prepararam as crianças para a escola, trabalharam igualmente oito horas, e ainda terão que cozinhar, lavar roupa e a louça. E ainda deverão ter energias para romance. Muita gente considera esta dinâmica como sendo a ordem natural das coisas, ordem que as Igrejas e as teologias que desenvolveram ajudaram a ratificar. Pouca gente percebe a ação do diabo. Algumas que percebem preferem não mexer nisso, porque não têm energias para combater algo tão grande,
Por isso, uma das questões importantes, a serem levadas em consideração quando falamos em justiça de gênero e pregação, é apontar para a situação de total desequilíbrio existente. É preciso mostrar o que não condiz com a justiça – mesmo que isso possa ir contra alguns textos bíblicos. Neste caso, a função de quem prega é pregar contra o texto bíblico – com o auxílio da Espírito Santo.
Falar do púlpito sobre desigualdade e injustiça de gênero, apontar para casos de violência, por si só já é dar passos gigantes. Quando mulheres percebem que estes são temas que estão na lista de preocupações da ministra ou do ministro e, por conseguinte, da Igreja, elas passam a ter esperança de que haverá espaço onde encontrar apoio.
Assim como palavras podem matar, palavras ditas e ouvidas na hora certa, também podem mudar rumos, transformar vidas, trazer esperança, desintegrar depressão. Existem palavras que matam: “O exame mostrou uma mancha no seu fígado”, ou “você está demitido”, ou “o marido é o cabeça da família”. Mas também palavras trazem vida de volta: “a mancha desapareceu do exame”, “você está contratada”, “é uma menina, parabéns!”, “mulheres e homens criados à imagem de Deus”, “foi para a liberdade que Cristo nos libertou”.
Quebrar o silêncio que malignamente envolve as injustiças de gênero pode ser o início de um tempo novo, de maneira especial para as mulheres, as grandes vítimas deste pecado individual e social. Palavras podem trazer vida.

Pregação como oportunidade de quebra de paradigmas
Apesar de todos os avanços tecnológicos e todas as facilidades de entretenimento que hoje se apresentam, muitas pessoas ainda veem, na palavra da Igreja, uma voz importante. Aquilo que ela diz e afirma tende a ser levado em consideração, especialmente pelas pessoas que dela fazem parte.
O culto ainda é um momento privilegiado em que a atenção de 20, 50, 100, 500 ou 1.000 pessoas está à disposição de quem prega. Uma pregação bem preparada, bem fundamentada, performada de maneira cativante e criativa, é capaz de trazer novos horizontes a costumes antigos. Um desses costumes antigos, solidificados, arraigados, cristalizados, e que precisam ser questionados e combatidos, diz respeito à dominação que homens são criados e ensinados a exercer sobre as mulheres.
Uma boa prédica, uma prédica bem performada, se Deus assim o decidir, pode ser um novo começo, um novo ponto de partida, se não para toda uma comunidade, pelo menos para uma, duas ou três pessoas. Facilitar um encontro das pessoas com o relato bíblico, conduzi-las para que entrem na história e experimentem o que acontece, pode ser o início de uma vida nova. Uma realidade em que uma relação equitativa entre os gêneros é experimentada é uma realidade mais saudável e feliz para todas as pessoas.
A hermenêutica da suspeita, desenvolvida pela sabedoria feminista, se torna extremamente importante na busca por novos paradigmas. Ela pode ajudar a recuperar personagens esquecidas, não citadas, negadas, apagadas dos textos bíblicos. Pode mostrar o papel fundante que as mulheres exerceram na história da Igreja. Pode despertar a curiosidade e levar à conclusão de que, desde sempre, as mulheres tiveram muitos outros papeis do que os de “banho, mesa e cama”.
Tal hermenêutica pode ajudar a novas descobertas, a buscar significado nas lacunas, nas brechas, nas ausências; e, pelo benefício de sua própria flexibilidade, pode recompor-se e reinventar-se diante de novas perguntas.
Teorias de gênero, igualmente, podem ajudar a questionar construções epistemológicas desenvolvidas para manter homens no poder. Precisam ser estudadas, assimiladas, discutidas, especialmente nos centros de formação teológica.

Pregação como criação de espaço seguro
Mudar paradigmas, trazer novidades, apontar para o novo, pode ser extremamente libertador. Pessoas que se sentem libertadas podem dizer exatamente o que as fez sentir assim. Mas o novo também pode ser doloroso, trazer sofrimento. Quebrar paradigmas significa alterar rotinas, transformar papeis, subverter ordens dadas. Isso nunca é fácil. Por isso, a mesma pregação que busca quebrar paradigmas pode também ajudar a confortar.Primeiro, mostrar a situação pecaminosa em que muitas relações se encontram, a partir do momento em que há dominação de um gênero sobre outro. Depois, mostrar de onde vem a força impulsionadora da mudança,de onde vem o fundamento para a justiça que se quer.
Vítimas de violência sabem dos riscos que correm ao não mais aceitarem a violência imposta. Para cada tentativa de libertação há reações diametralmente opostas. Basta olhar nos feminicídios a quantidade de casos em que a mulher estava tentando se libertar. Por isso, a pregação que denuncia as violações dos direitos das mulheres precisa fazê-lo sob uma plataforma de apoio mais ampla, com possibilidades de apontar para espaços coletivos de reflexão e apoio mútuo, incluindo a possibilidade de designar ajuda profissional especializada.
Também é necessário que haja continuidade. Não se trata de uma única abordagem na semana internacional de luta contra a violência às mulheres. Trata-se de um tema contínuo. As reflexões levantadas nas pregações, as experiências proporcionadas a partir do ouvir, podem contar com outros espaços para serem aprofundadas, debatidas, questionadas, mastigadas. Penso nos grupos de estudo, grupos de oração, nos encontros das organizações pertencentes e que atuam na vida comunitária.

Concluindo

Considerando a realidade diabólica da estruturação patriarcal existente na quase totalidade das sociedades e tendo no horizonte que a maioria das pessoas que participam da igreja é mulher, justiça de gênero não é apenas tema da pregação como também é paradigma para a ciência homilética. Toda e qualquer pregação precisa ser confrontada com a pergunta: o que isso significa para as mulheres? E, isto ajuda a trazer um pouco mais de equilíbrio para as relações entre homens e mulheres. 



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 IV Congreso Latino-Americano de Género y Religión, Historia, Salud y Derechos

Justicia de Género y la Predicación en la Iglesia
(Predio H, 202)
São Leopoldo, RS, 6 de Agosto de 2015

P. Dr. Mauro B. de Souza
                                                                           (Traducción Ofelia Dávila)
Estableciendo puntos de inicio
La sabiduría homiléptica, que tiene siglos de práctica y de reflexión, nos enseña que existe únicamente tres asuntos importantes para la predicación: la vida, la muerte y todo  lo que existe entre una y otra, incluyendo  el antes, el durante y  el después. O sea: todo respecto a la predicación. Todo es objeto de la predicación. Todo es sujeto de la predicación y todo tiene que ver con la predicación.  
Para efectos de nuestra conversación, la predicación es el discurso de la Iglesia: todo aquello que la Iglesia ó las personas de fe dicen, hacen ó callan. La Predicación es la voz de la Iglesia, son sus manifestaciones, su trabajo diaconal y sus tentativas de comunicación. La predicación es una de las formas por las cuales la Iglesia predica o transmite. La Predicación es una reflexión que nace de..., pasa por... o nos conduce a un texto bíblico, direccionándonos a una comunidad reunida en oración.
Para que la predicación pueda acontecer, por lo menos son tres los elementos indispensables: el contenido, la forma y el contexto. Es fundamental tener lo que se quiere predicar (la experiencia, el contenido, la invitación, la idea, la enseñanza, la motivación); es igualmente importante saber cómo se va a predicar (el método, el camino, la forma, o el estilo), y, por último, pero no menos importante, es  necesario saber en qué contexto se dará la predicación (dónde, para que personas, en qué situación, y en que medio). La prédica surge a partir del encuentro de estos tres factores: el qué, el cómo y  cuándo. Por supuesto, no es necesario decir que,  por encima de todo, está la voluntad y el poder de Dios: es Dios quien decide si todo aquello que se preparo, se encamino, se elaboro, irá o no a funcionar. Nosotras y nosotros solo podemos ayudar;  podemos trabajar para aumentar las posibilidades de que Dios use nuestro trabajo para comunicar su Palabra. Aún está en valor la antigua regla de: una hora de preparación por cada minuto pronunciado en el púlpito!
Podemos pensar por lo menos en cuatro funciones de la predicación: enseñar, desafiar, confortar y celebrar. Así mismo que elementos de cada una de estas cuatro funciones están presentes en un mismo evento, una de ellas sobresaldrá. Por ejemplo: En un entierro, se desea mucho que el elemento de consuelo sea el que sobresalga. El contexto de la despedida no es un lugar adecuado para desafiar y mucho menos para celebrar. Por ejemplo, Lo contrario sucede en un culto de acción de gracias, allí, la cosecha es el aspecto más deseable y la celebración de la vida y de la gratitud.
La prédica es un evento. Ella acontece, no en la cabeza o por la voz de la persona que prédica, ni por el texto cuidadosamente preparado, así mismo no por las páginas de la biblia, más esta acontece en el oído de quien lo oye. Esto fue, en mi modesta opinión, el gran cambio de paradigma del movimiento que recibió el nombre de nueva homiléptica (que surge en los años 60 y 70 y, portante, no es tan nueva).
La prédica sucede en un tiempo, no en el espacio. Es La unión de lo que se dice, no se dice lo que es transmitido por el cuerpo o por la forma de comunicar, pero si por aquello que el medio produce, más por aquello que está en los corazones y las mentes de las personas que oyen. Por tanto: La prédica es el producto final, es aquello que queda, es aquello que se lleva para la casa. Por más esfuerzos que yo haya realizado o por más lindo que sean  los versos y los párrafos que me llevaron madrugadas producirlos,  si no encuentro una forma apropiada de decirlo en el momento oportuno, puedo haber desperdiciado la oportunidad de proporcionar un encuentro de las personas con aquello que ellas definen como sagrado e importante.  
Por tanto, la predicación comienza con el oír. La predicación necesita tomar en cuenta a las personas, sus costumbres, sus maneras de ser, sus formas de comunicarse, sus capacidades, habilidades y la situación en  la que viven.  No significa que el mensaje no pueda o no deba traer propuestas de cambio o de novedad. Necesitamos recordar que el evangelio  es una Buena Nueva, una buena noticia... y eso es una novedad en un mundo lleno de des-gracia. Aquí el papel del evangelio de cuestionar maneras, costumbres, normas, culturas...aquí entra el poder de la prédica de hablar sobre temas que son titulados como temas tabú, como la desigualdad e injusticia de género, por ejemplo. En muchos contextos, la injusticia de género esta tan arraigada, tan fuerte, que necesito aprender y darle nombre a ella.
Al escuchar, a la persona que predica aprendo por donde andan las personas, en que creen, que las aflige, que les ocasiona sufrimientos o con que se alegran. Pero este escuchar necesita ser construido, necesita ser practicado. Es necesaria la presencia, es necesario hacerse presente en la vida de las personas, especialmente en los momentos difíciles. Confianza  es la palabra-llave. Es necesario conquistar la confianza.
Antes de predicar, por tanto, es necesario escuchar, esto vale, obviamente, para el texto bíblico y es necesario oír el texto, dejarlo hablar, abrir-se para las sorpresas que surjan de este oír aparentemente sin compromiso. No escuchar ni oír el texto significa que solo se esta  usando para justificar su propia verdad.
Considerando  estos elementos fundantes, ahora vamos a reflexionar sobre nuestro tema en particular.


Justicia de género y la predicación de la Iglesia
Justicia de género, en mi opinión, es uno de los objetivos más nobles a ser buscado en el trabajo de la Iglesia y, por tanto, por su predicación. Ella envuelve:
a)    La afirmación de que justicia de género es bueno y saludable para todas las personas.
b)    La afirmación de que la  injusticia de género es una construcción social y, por lo tanto puede ser deconstruída.
c)     La auto-determinación de las personas para afirmarse en su propio género.
d)    La igualdad de derechos entre hombres, mujeres y otros géneros.
e)    La extinción de privilegios, de tratamientos diferenciados, sexismos y la violencia.
f)      La creación de nuevos lenguajes inclusivos, no peyorativos y de respeto.

Se Inicia mucho antes del púlpito
Una de las investigaciones más amplias, jamás hecha, sobre predicación  hizo la siguiente pregunta a las personas que frecuentaban la Iglesia: ¿Qué espera usted de quién predica? La avasalladora respuesta de la mayoría fue: “queremos escuchar a una persona de fe hablando”.
La respuesta intrigante parece obvia, pero no lo es. La persona que predica necesita ser la primera en crear aquello que dice. Él o Ella necesita tener convicción, necesita haber  incorporado en su ser aquello que está diciendo.
Una persona de fe hablando apunta para la coherencia entre hechos y palabras de la persona que predica. La coherencia es un hilo absolutamente determinante para que exista comunicación.  Soy lo que predico y predico lo que soy. Fuera de esto, hay poca oportunidad de conexión.
La predicación, por tanto, comienza mucho antes del púlpito. Comienza allá en la fila del supermercado, en la forma como observo a las personas y en la forma como interactúo con ellas. Comienza en la visita que hago a las personas enfermas cuando están postrados en cama, frágiles y vulnerables. Comienza en el almuerzo comunitario donde participo del equipo que lava las vajillas.
Es necesario conectarse con las personas. Esto no significa tratar, artificialmente, ser igual a ellas y ellos, pero si colocarse al lado, intentar hasta aprender a oír, y no querer simplemente citar las respuestas que se aprenden en los libros o en el buscador de Sr. Google.

La Predicación como una posibilidad de romper el silencio
La injusticia, en la forma de desequilibrio de género, es  un pecado  arraigado fuertemente que si quiere puede ser percibido. Muchas personas nacieron, vivieron y murieron sin siquiera haber percibido que hay grandes desigualdades y desequilibrios de género. Los hombres continuarán llegando a casa después del “trabajo agotador” que tuvieran en las ocho horas diarias. Continuarán jugando en el sofá y pidiendo de cenar y, ni siquiera notaran que sus esposas, en aquel mismo día, se levantaron más temprano, prepararon a los niños / las niñas para la escuela, que trabajaron igualmente ocho horas, y aún tendrán que cocinar, lavar la ropa y los platos. Y aún tendrán que tener energías para el romance. Mucha gente considera esta dinámica como el orden natural de las cosas, orden que las Iglesias y las teologías que desenvolvían para ayudar a ratificar. Poca gente percibe la acción del diablo. Algunas que perciben prefieren no mencionar esto, porque no tienen energías para combatir algo tan grande,
Por esto, una de las preguntas importantes, a ser llevados en consideración cuando hablamos de justicia de género y predicación, es apuntar para la situación de total desequilibrio existente. Y es necesario mostrar lo que no condice con la justicia – cualquiera de eso pueda ir en contra de algunos textos bíblicos. En este caso, la función de quien predica es predicar contra el texto bíblico – con el auxilio del Espírito Santo.
Hablando  desde el púlpito sobre desigualdad e injusticia de género, apuntar para casos de violencia, por si solos ya es dar pasos gigantes. Cuando mujeres perciben que estés son temas que están en la lista de preocupaciones de la ministra o del ministro y, por conseguirte, de la Iglesia, ellas pasan a tener esperanza de que haya espacio donde encontrar apoyo.
Así como las palabras pueden matar, las palabras pronunciadas y escuchadas en la hora correcta, también pueden cambiar rumbos, transformar vidas, traer esperanza, desintegrar la depresión. Existen palabras que matan: “El examen mostró una mancha en su hígado”, o “usted está despedido”, o “el marido es la cabeza de la familia”.  Pero también son  las palabras que traen vida de vuelta: “la mancha desapareció del examen médico”, “usted está contratada”, “es una niña, ¡Felicitaciones!”, “las mujeres y los hombres criados a la imagen de Dios”, “fue para la libertad que Cristo nos libero”.
Romper el silencio que malignamente envuelve las injusticias de género puede ser el inicio de un tiempo nuevo, de manera especial para las mujeres, las grandes víctimas de este pecado individual y social. Las palabras pueden traer vida.

La Predicación como la oportunidad de romper paradigmas
A pesar de todos los avances tecnológicos y todas las facilidades de entretenimiento que hoy se presentan, aún muchas personas ven, en la palabra de la Iglesia, una voz importante.  De aquello que ella dice, afirma y tiende a ser llevado en consideración, especialmente por las personas que forman parte de ella.
El culto aún es un momento privilegiado en que la atención de 20, 50, 100, 500 o de 1.000 personas están a la disposición de quien prédica. Una predicación bien preparada, bien fundamentada, realizada de manera cautivante y creativa, es capaz de traer nuevos horizontes a las costumbres antiguas. Uno de estas costumbres antiguas, solidificadas, arraigadas, cristalizados,  que necesitan ser cuestionados y combatidos, dice respecto a la dominación que los hombres son creados y enseñados a ejercer sobre las mujeres.
Una buena prédica, una prédica bien fundamentada, si Dios así lo decide, puede ser un nuevo comienzo, un nuevo punto de partida, sino para toda una comunidad, por lo menos para una, de ellas o tres personas. Facilitar un encuentro de las personas con el relato bíblico, conducirlas para que entren en la historia y experimenten lo que acontece, puede ser el inicio de una vida nueva. Una realidad en que una relación equitativa entre los géneros es experimentada, es una realidad más saludable y feliz para todas las personas.
La hermenéutica de la sospecha, desenvuelta por la sabiduría feminista, se torna extremamente importante en la búsqueda por nuevos paradigmas. Ella puede ayudar a recuperar personajes olvidadas, no citadas, negadas, silenciadas en los textos bíblicos. Puede mostrar el papel fundante que las mujeres ejercieron en la historia de la Iglesia. Puede despertar la curiosidad  y dar lugar a la conclusión de que las mujeres, desde siempre, tuvieron otros papeles además de  “baño, mesa e cama”.
Tal hermenéutica puede ayudar a nuevos resultados, a buscar significado en las lagunas, en las brechas, en las ausencias; y, por el beneficio de su propia flexibilidad, puede recomponer-se y reinventar-se delante de nuevas preguntas.
Teorías de género, igualmente, pueden ayudar a cuestionar construcciones epistemológicas desenvueltas para mantener los hombres en el poder. Necesitan ser estudiadas, asimiladas, discutidas, especialmente en los centros de formación teológica.

La Predicación como creación de un espacio seguro
Cambiar paradigmas, traer novedades, apuntar para lo nuevo, puede ser extremamente libertador. Personas que se sienten liberadas pueden decir exactamente lo que las hace sentir así. Pero también lo nuevo puede ser doloroso, traer sufrimiento. Romper paradigmas significa alterar rutinas, transformar papeles, subvertir órdenes dadas. Eso nunca es fácil. Por eso, la misma predicación que busca romper paradigmas puede también ayudar a confortar. Primero, mostrar la situación pecaminosa en que muchas relaciones se encuentran, a partir del momento en que hay dominación de un género sobre el otro. Después, mostrar de donde viene la fuerza impulsadora de cambio, de donde viene el fundamento para la justicia que se quiere.
Víctimas de violencia sabe de los riesgos que corren al no aceptar más la violencia impuesta. Para cada tentativa de liberación hay reacciones diametralmente opuestas. Basta mirar en los feminicidios, la cantidad de casos en que la mujer estaba intentando liberarse. Por ello, la predicación que denuncia las violaciones de los derechos de las mujeres necesita hacerlo sobre una plataforma de apoyo más amplio, con posibilidades de apuntar para los espacios colectivos de reflexión y apoyo mutuo, incluyendo la posibilidad de designar ayuda profesional especializada.
También es necesario que haya continuidad. No se trata de un único abordaje en la semana internacional de lucha contra la violencia  de las mujeres. Se trata de un tema continuo. Las reflexiones levantadas en las predicaciones, las experiencias proporcionadas a partir del oír, pueden contar con otros espacios para ser profundizadas, debatidas, cuestionadas, masticadas. Pienso en los grupos de estudio, grupos de oración, en los encuentros de las organizaciones pertenecientes y que actúan en la vida comunitaria.

Conclusión
Considerando la realidad diabólica de la estructuración patriarcal existente en la casi totalidad de las sociedades y teniendo en el horizonte que la mayoría de las personas que participan de la iglesia es mujer, justicia de género no es apenas temas de la predicación como también paradigma para la ciencia homiléptica. Toda y cualquier predicación necesita ser confrontada con la pregunta: ¿Qué significa esto para las mujeres? Y, cómo esto nos ayuda a traer un poco más de equilibrio para las relaciones entre los hombres y las mujeres.



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