IV Congresso Latino-Americano de Gênero e Religião
História, Saúde e Direitos
Justiça de
Gênero e a Pregação da Igreja
Prédio H, 202
São Leopoldo, RS, 6 de agosto de 2015
P. Dr. Mauro B. de Souza
Estabelecendo pontos de partida
A sabedoria
homilética, que acumula séculos de prática e de reflexão, ensina que existem somente
três assuntos importantes para a pregação: a vida, a morte e tudo que
existe entre uma e outra, incluindo o antes, o durante e o depois. Ou seja:
tudo diz respeito à pregação. Tudo é objeto da pregação. Tudo é sujeito da
pregação. Tudo tem a ver com a pregação.
Para efeitos
da nossa conversa, pregação é o discurso da Igreja: tudo aquilo que a Igreja
ou as pessoas de fé dizem, fazem ou silenciam. Pregação é a voz da Igreja, são
suas manifestações, seu trabalho diaconal, suas tentativas de comunicação.
Prédica é uma das formas pelas quais a Igreja prega. Prédica é uma reflexão que
nasce de, passa por ou conduz a um texto bíblico, direcionada a uma comunidade
reunia em oração.
Para que a
pregação possa acontecer, pelo menos três elementos são indispensáveis: o
conteúdo, a forma e o contexto. É fundamental ter o quê se quer pregar (a
experiência, o conteúdo, o convite, a ideia, o ensinamento, a motivação); é
igualmente importante dominar o como se vai pregar (o método, o jeito, o estilo,
a forma), e, por último, mas não menos importante, é preciso saber em que
contexto se dará a pregação (onde, com que pessoas, em que situação, em quais
meios). A pregação surge a partir do encontro destes três fatores: o quê, o como
e o quando. Claro, desnecessário dizer que, acima de tudo, está a vontade e o
poder de Deus: é Deus quem decide se aquilo tudo que se preparou, se
intencionou, se estudou, irá ou não funcionar. Mas nós podemos ajudar; nós
podemos trabalhar para aumentar as chances de que Deus use nosso trabalho para
comunicar sua Palavra. Ainda vale a antiga regra: uma hora de preparação para
cada minuto proferido do púlpito!
Podemos
pensar em pelo menos quatro funções da pregação: ensinar, desafiar, confortar e
celebrar. Mesmo que elementos de cada uma destas quatro funções estejam
presentes num mesmo evento, uma delas se sobressairá. Em uma alocução de
sepultamento, por exemplo, é muito desejável que o elemento do conforto se
sobressaia. O contexto da despedida não é um lugar adequado para desafiar,
muito menos para celebrar. O contrário acontece num culto de ação de graças
pela colheita, por exemplo. Ali, o aspecto mais desejável é a celebração da
vida e da gratidão.
Prédica é
um evento. Ela
acontece, nem na cabeça ou pela voz da pessoa que prega, nem no texto
cuidadosamente preparado, nem mesmo nas páginas da bíblia, mas acontece no
ouvido de quem ouve. Esta foi, na minha modesta opinião, a grande mudança de
paradigma do movimento que recebeu o nome de nova homilética (que é dos anos 60
e 70 e, portanto, nem tão nova assim).
Prédica
acontece no tempo, não no espaço. É a união daquilo que é dito, não dito, aquilo
que é transmitido pelo corpo e pelo jeito da comunicar, mais aquilo que o meio
produz, mais aquilo que está nos corações e nas mentes das pessoas que ouvem. Ou
seja: prédica é o produto final, é aquilo que fica, é aquilo que se leva pra
casa. Por mais esforço que eu tenha desprendido, por mais lindos que sejam os versos
e os parágrafos que levei madrugadas produzindo, se não encontrar um jeito apropriado
de dizer, e no momento certo de dizer, posso ter desperdiçado uma boa chance de
proporcionar um encontro das pessoas com aquilo que elas definem como sagrado e
importante.
Portanto,
a pregação começa com o ouvir. A pregação precisa levar em conta as pessoas, seus costumes,
seus jeitos, suas formas de se comunicar, suas capacidades e habilidades, a
situação em que vivem. Não significa que a mensagem não possa ou não deva
trazer propostas de mudança ou novidade. Precisamos lembrar que o evangelho é
uma boa nova, uma boa notícia... é isso é uma novidade em um mundo cheio de
des-graça. Aqui entra o papel do evangelho de questionar jeitos, costumes,
normas, culturas... aqui entra o poder da pregação de falar sobre temas que são
intitulados como temas-tabu, como a desigualdade e injustiça de gênero, por
exemplo. Em muitos contextos, a injustiça de gênero é tão arraigada, tão forte,
que é preciso aprender a dar nome a ela.
Ao ouvir, a
pessoa que prega aprende por onde andam as pessoas, em quê acreditam, o que as
aflige, o que lhes traz sofrimento, com o quê se alegram. Mas esse ouvir
precisa ser construído, precisa ser praticado. É preciso presença, é necessário
fazer-se presente na vida das pessoas, especialmente nos momentos difíceis. Confiança
é palavra-chave. É preciso conquistar confiança.
Antes de
pregar, portanto, é preciso ouvir. Isso vale, obviamente, para o texto bíblico.É
preciso ouvir o texto, deixá-lo falar, abrir-se paraas surpresas que decorrem
deste ouvir aparentemente descompromissado. Não ouvir o texto significa usá-lo
para justificar a própria verdade.
Dados este
elementos fundantes, vamos agora refletir sobre o nosso tema em particular.
Justiça de gênero e a pregação da
Igreja
Justiça
de gênero, na minha
opinião, é um dos objetivos mais nobres a serem buscados pelo trabalho da
Igreja e, portanto, pela sua pregação. Ela envolve:
a) A afirmação de que justiça de gênero
é boa e saudável para todas as pessoas.
b) A afirmação de que injustiça de
gênero é uma construção social e que, portanto, pode ser desconstruída.
c) A autodeterminação das pessoas em
afirmarem seu próprio gênero;
d) A equiparação de direitos entre
homens, mulheres e demais gêneros;
e) A extinção de privilégios,
tratamentos diferenciados, sexismos e violências.
f) A criação de novas linguagens,
inclusivas, não pejorativas e respeitosas.
Começa bem antes do púlpito
Uma das
pesquisas mais abrangentes, jamais feita, sobre pregação fez a seguinte
pergunta às pessoas que frequentavam a Igreja: o que você espera de quem prega?
A mais avassaladora maioria respondeu: “queremos ouvir uma pessoa de fé falando”.
A resposta
intrigante parece óbvia, mas não é. Apessoa que prega precisa ser a primeira a
acreditar naquilo que diz. Precisa ter convicção, precisa ter incorporado no
seu ser aquilo que está dizendo.
Uma pessoa
de fé falando aponta para a coerência entre atos e palavras da pessoa que
prega. Coerência é um elo absolutamente determinante para que haja a
comunicação. Sou o que prego e prego o que sou. Fora disso, há pouquíssimas chances
de conexão.
A pregação, portanto,
já começa muito antes do púlpito. Começa lá na fila do supermercado, na forma
como olho as pessoas e na forma como interajo com elas. Começa na visita que
faço às pessoas doentes quando estão acamadas, fragilizadas e vulneráveis.
Começa no almoço comunitário onde participo da equipe que lavou a louça.
É preciso
conectar-se com as pessoas. Isso não significa tentar, artificialmente, ser
igual a elas, mas colocar-se ao lado, praticar até aprender a ouvir, sem querer
simplesmente citar as respostas que se aprende nos livros ou nas buscas no Sr.
Google.
Pregação como possibilidade de
quebrar o silêncio
Injustiça,
na forma de desequilíbrio de gênero, é um pecado tão fortemente arraigado que
sequer é percebida. Muitas pessoas nascerão, viverão e morrerão sem sequer
terem percebido que há enormes desigualdades e desequilíbrios de gênero. Homens
vão continuar chegando em casa depois do “trabalho cansativo” que tiveram nas
suas oito horas diárias. Vão continuar se jogando no sofá e pedindo janta, e
sequer notarão que suas esposas, naquele mesmo dia, acordaram mais cedo,
prepararam as crianças para a escola, trabalharam igualmente oito horas, e
ainda terão que cozinhar, lavar roupa e a louça. E ainda deverão ter energias
para romance. Muita gente considera esta dinâmica como sendo a ordem natural
das coisas, ordem que as Igrejas e as teologias que desenvolveram ajudaram a
ratificar. Pouca gente percebe a ação do diabo. Algumas que percebem preferem
não mexer nisso, porque não têm energias para combater algo tão grande,
Por isso,
uma das questões importantes, a serem levadas em consideração quando falamos em
justiça de gênero e pregação, é apontar para a situação de total desequilíbrio
existente. É preciso mostrar o que não condiz com a justiça – mesmo que isso
possa ir contra alguns textos bíblicos. Neste caso, a função de quem prega é
pregar contra o texto bíblico – com o auxílio da Espírito Santo.
Falar do
púlpito sobre desigualdade e injustiça de gênero, apontar para casos de violência,
por si só já é dar passos gigantes. Quando mulheres percebem que estes são
temas que estão na lista de preocupações da ministra ou do ministro e, por
conseguinte, da Igreja, elas passam a ter esperança de que haverá espaço onde
encontrar apoio.
Assim como
palavras podem matar, palavras ditas e ouvidas na hora certa, também podem
mudar rumos, transformar vidas, trazer esperança, desintegrar depressão.
Existem palavras que matam: “O exame mostrou uma mancha no seu fígado”, ou
“você está demitido”, ou “o marido é o cabeça da família”. Mas também palavras
trazem vida de volta: “a mancha desapareceu do exame”, “você está contratada”,
“é uma menina, parabéns!”, “mulheres e homens criados à imagem de Deus”, “foi
para a liberdade que Cristo nos libertou”.
Quebrar o
silêncio que malignamente envolve as injustiças de gênero pode ser o início de
um tempo novo, de maneira especial para as mulheres, as grandes vítimas deste
pecado individual e social. Palavras podem trazer vida.
Pregação como oportunidade de quebra
de paradigmas
Apesar de
todos os avanços tecnológicos e todas as facilidades de entretenimento que hoje
se apresentam, muitas pessoas ainda veem, na palavra da Igreja, uma voz
importante. Aquilo que ela diz e afirma tende a ser levado em consideração,
especialmente pelas pessoas que dela fazem parte.
O culto
ainda é um momento privilegiado em que a atenção de 20, 50, 100, 500 ou 1.000
pessoas está à disposição de quem prega. Uma pregação bem preparada, bem
fundamentada, performada de maneira cativante e criativa, é capaz de trazer
novos horizontes a costumes antigos. Um desses costumes antigos, solidificados,
arraigados, cristalizados, e que precisam ser questionados e combatidos, diz
respeito à dominação que homens são criados e ensinados a exercer sobre as
mulheres.
Uma boa
prédica, uma prédica bem performada, se Deus assim o decidir, pode ser um novo
começo, um novo ponto de partida, se não para toda uma comunidade, pelo menos
para uma, duas ou três pessoas. Facilitar um encontro das pessoas com o relato
bíblico, conduzi-las para que entrem na história e experimentem o que acontece,
pode ser o início de uma vida nova. Uma realidade em que uma relação equitativa
entre os gêneros é experimentada é uma realidade mais saudável e feliz para
todas as pessoas.
A
hermenêutica da suspeita, desenvolvida pela sabedoria feminista, se torna
extremamente importante na busca por novos paradigmas. Ela pode ajudar a
recuperar personagens esquecidas, não citadas, negadas, apagadas dos textos
bíblicos. Pode mostrar o papel fundante que as mulheres exerceram na história
da Igreja. Pode despertar a curiosidade e levar à conclusão de que, desde
sempre, as mulheres tiveram muitos outros papeis do que os de “banho, mesa e
cama”.
Tal
hermenêutica pode ajudar a novas descobertas, a buscar significado nas lacunas,
nas brechas, nas ausências; e, pelo benefício de sua própria flexibilidade,
pode recompor-se e reinventar-se diante de novas perguntas.
Teorias de
gênero, igualmente, podem ajudar a questionar construções epistemológicas
desenvolvidas para manter homens no poder. Precisam ser estudadas, assimiladas,
discutidas, especialmente nos centros de formação teológica.
Pregação como criação de espaço
seguro
Mudar
paradigmas, trazer novidades, apontar para o novo, pode ser extremamente
libertador. Pessoas que se sentem libertadas podem dizer exatamente o que as
fez sentir assim. Mas o novo também pode ser doloroso, trazer sofrimento.
Quebrar paradigmas significa alterar rotinas, transformar papeis, subverter
ordens dadas. Isso nunca é fácil. Por isso, a mesma pregação que busca quebrar
paradigmas pode também ajudar a confortar.Primeiro, mostrar a situação
pecaminosa em que muitas relações se encontram, a partir do momento em que há
dominação de um gênero sobre outro. Depois, mostrar de onde vem a força
impulsionadora da mudança,de onde vem o fundamento para a justiça que se quer.
Vítimas de
violência sabem dos riscos que correm ao não mais aceitarem a violência
imposta. Para cada tentativa de libertação há reações diametralmente opostas. Basta
olhar nos feminicídios a quantidade de casos em que a mulher estava tentando se
libertar. Por isso, a pregação que denuncia as violações dos direitos das
mulheres precisa fazê-lo sob uma plataforma de apoio mais ampla, com possibilidades
de apontar para espaços coletivos de reflexão e apoio mútuo, incluindo a
possibilidade de designar ajuda profissional especializada.
Também é
necessário que haja continuidade. Não se trata de uma única abordagem na semana
internacional de luta contra a violência às mulheres. Trata-se de um tema
contínuo. As reflexões levantadas nas pregações, as experiências proporcionadas
a partir do ouvir, podem contar com outros espaços para serem aprofundadas,
debatidas, questionadas, mastigadas. Penso nos grupos de estudo, grupos de
oração, nos encontros das organizações pertencentes e que atuam na vida
comunitária.
Considerando
a realidade diabólica da estruturação patriarcal existente na quase totalidade
das sociedades e tendo no horizonte que a maioria das pessoas que participam da
igreja é mulher, justiça de gênero não é apenas tema da pregação como também é
paradigma para a ciência homilética. Toda e qualquer pregação precisa ser
confrontada com a pergunta: o que isso significa para as mulheres? E, isto
ajuda a trazer um pouco mais de equilíbrio para as relações entre homens e
mulheres.
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IV Congreso Latino-Americano de
Género y Religión, Historia, Salud y Derechos
Justicia de Género y la Predicación en la Iglesia
(Predio H, 202)
São Leopoldo, RS, 6 de Agosto de
2015
P. Dr. Mauro B. de Souza
(Traducción
Ofelia Dávila)
Estableciendo puntos de inicio
La sabiduría homiléptica, que
tiene siglos de práctica y de reflexión, nos enseña que existe únicamente tres
asuntos importantes para la predicación: la vida, la muerte y todo lo que existe entre una y otra,
incluyendo el antes, el durante y el después. O sea: todo respecto a la
predicación. Todo es objeto de la predicación. Todo es sujeto de la predicación
y todo tiene que ver con la predicación.
Para efectos de nuestra conversación,
la predicación es el discurso de la Iglesia: todo aquello que la Iglesia
ó las personas de fe dicen, hacen ó callan. La Predicación es la voz de la
Iglesia, son sus manifestaciones, su trabajo diaconal y sus tentativas de comunicación.
La predicación es una de las formas por las cuales la Iglesia predica o transmite.
La Predicación es una reflexión que nace de..., pasa por... o nos conduce a un
texto bíblico, direccionándonos a una comunidad reunida en oración.
Para que la predicación pueda
acontecer, por lo menos son tres los elementos indispensables: el
contenido, la forma y el contexto. Es fundamental tener lo que se quiere
predicar (la experiencia, el contenido, la invitación, la idea, la enseñanza,
la motivación); es igualmente
importante saber cómo se va a predicar (el método, el camino, la forma, o el
estilo), y, por último, pero no menos importante, es necesario saber en qué contexto se dará la
predicación (dónde, para que personas, en qué situación, y en que medio). La prédica
surge a partir del encuentro de estos tres factores: el qué, el cómo y cuándo. Por supuesto, no es necesario decir
que, por encima de todo, está la voluntad
y el poder de Dios: es Dios quien decide si todo aquello que se preparo, se encamino,
se elaboro, irá o no a funcionar. Nosotras y nosotros solo podemos ayudar; podemos trabajar para aumentar las
posibilidades de que Dios use nuestro trabajo para comunicar su Palabra. Aún está
en valor la antigua regla de: una hora de preparación por cada minuto
pronunciado en el púlpito!
Podemos pensar por lo menos en
cuatro funciones de la predicación: enseñar, desafiar, confortar y celebrar. Así
mismo que elementos de cada una de estas cuatro funciones están presentes en un
mismo evento, una de ellas sobresaldrá. Por ejemplo: En un entierro, se desea
mucho que el elemento de consuelo sea el que sobresalga. El contexto de la
despedida no es un lugar adecuado para desafiar y mucho menos para celebrar.
Por ejemplo, Lo contrario sucede en un culto de acción de gracias, allí, la
cosecha es el aspecto más deseable y la celebración de la vida y de la gratitud.
La prédica es un
evento. Ella acontece, no en la cabeza o por la voz de la persona
que prédica, ni por el texto cuidadosamente preparado, así mismo no por las páginas
de la biblia, más esta acontece en el oído de quien lo oye. Esto fue, en mi modesta
opinión, el gran cambio de paradigma del movimiento que recibió el nombre de
nueva homiléptica (que surge en los años 60 y 70 y, portante, no es tan nueva).
La prédica sucede en un tiempo,
no en el espacio. Es La unión de lo que se dice, no se dice lo que es
transmitido por el cuerpo o por la forma de comunicar, pero si por aquello que
el medio produce, más por aquello que está en los corazones y las mentes de las
personas que oyen. Por tanto: La prédica es el producto final, es aquello que
queda, es aquello que se lleva para la casa. Por más esfuerzos que yo haya
realizado o por más lindo que sean los
versos y los párrafos que me llevaron madrugadas producirlos, si no encuentro una forma apropiada de decirlo
en el momento oportuno, puedo haber desperdiciado la oportunidad de
proporcionar un encuentro de las personas con aquello que ellas definen como
sagrado e importante.
Por tanto, la predicación
comienza con el oír. La predicación necesita tomar en cuenta a las personas,
sus costumbres, sus maneras de ser, sus formas de comunicarse, sus capacidades,
habilidades y la situación en la que
viven. No significa que el mensaje no
pueda o no deba traer propuestas de cambio o de novedad. Necesitamos recordar
que el evangelio es una Buena Nueva, una
buena noticia... y eso es una novedad en un mundo lleno de des-gracia. Aquí el
papel del evangelio de cuestionar maneras, costumbres, normas, culturas...aquí
entra el poder de la prédica de hablar sobre temas que son titulados como temas
tabú, como la desigualdad e injusticia de género, por ejemplo. En muchos
contextos, la injusticia de género esta tan arraigada, tan fuerte, que necesito
aprender y darle nombre a ella.
Al escuchar, a la persona que
predica aprendo por donde andan las personas, en que creen, que las aflige, que
les ocasiona sufrimientos o con que se alegran. Pero este escuchar necesita ser
construido, necesita ser practicado. Es necesaria la presencia, es necesario
hacerse presente en la vida de las personas, especialmente en los momentos
difíciles. Confianza es la palabra-llave.
Es necesario conquistar la confianza.
Antes de predicar, por tanto, es
necesario escuchar, esto vale, obviamente, para el texto bíblico y es necesario
oír el texto, dejarlo hablar, abrir-se para las sorpresas que surjan de este
oír aparentemente sin compromiso. No escuchar ni oír el texto significa que
solo se esta usando para justificar su
propia verdad.
Considerando estos elementos fundantes, ahora vamos a
reflexionar sobre nuestro tema en particular.
Justicia de género y la predicación de la Iglesia
Justicia de género, en mi
opinión, es uno de los objetivos más nobles a ser buscado en el trabajo de la
Iglesia y, por tanto, por su predicación. Ella envuelve:
a)
La afirmación de que justicia de género
es bueno y saludable para todas las personas.
b)
La afirmación de que la injusticia de género es una construcción social
y, por lo tanto puede ser deconstruída.
c)
La auto-determinación de las personas
para afirmarse en su propio género.
d)
La igualdad de derechos entre hombres,
mujeres y otros géneros.
e)
La extinción de privilegios, de tratamientos
diferenciados, sexismos y la violencia.
f)
La creación de nuevos lenguajes
inclusivos, no peyorativos y de respeto.
Se Inicia mucho antes del púlpito
Una de las investigaciones más
amplias, jamás hecha, sobre predicación
hizo la siguiente pregunta a las personas que frecuentaban la Iglesia: ¿Qué
espera usted de quién predica? La avasalladora respuesta de la mayoría fue: “queremos
escuchar a una persona de fe hablando”.
La respuesta intrigante parece obvia,
pero no lo es. La persona que predica necesita ser la primera en crear aquello
que dice. Él o Ella necesita tener convicción, necesita haber incorporado en su ser aquello que está diciendo.
Una persona de fe hablando apunta
para la coherencia entre hechos y palabras de la persona que predica. La coherencia
es un hilo absolutamente determinante para que exista comunicación. Soy lo que predico y predico lo que soy. Fuera
de esto, hay poca oportunidad de conexión.
La predicación, por tanto,
comienza mucho antes del púlpito. Comienza allá en la fila del supermercado, en
la forma como observo a las personas y en la forma como interactúo con ellas. Comienza
en la visita que hago a las personas enfermas cuando están postrados en cama,
frágiles y vulnerables. Comienza en el almuerzo comunitario donde participo del
equipo que lava las vajillas.
Es necesario conectarse con las
personas. Esto no significa tratar, artificialmente, ser igual a ellas y ellos,
pero si colocarse al lado, intentar hasta aprender a oír, y no querer simplemente
citar las respuestas que se aprenden en los libros o en el buscador de Sr.
Google.
La Predicación como una posibilidad de romper el silencio
La injusticia, en la forma de desequilibrio
de género, es un pecado arraigado fuertemente que si quiere puede ser
percibido. Muchas personas nacieron, vivieron y murieron sin siquiera haber
percibido que hay grandes desigualdades y desequilibrios de género. Los hombres
continuarán llegando a casa después del “trabajo agotador” que tuvieran en las
ocho horas diarias. Continuarán jugando en el sofá y pidiendo de cenar y, ni
siquiera notaran que sus esposas, en aquel mismo día, se levantaron más
temprano, prepararon a los niños / las niñas para la escuela, que trabajaron
igualmente ocho horas, y aún tendrán que cocinar, lavar la ropa y los platos. Y
aún tendrán que tener energías para el romance. Mucha gente considera esta dinámica
como el orden natural de las cosas, orden que las Iglesias y las teologías que desenvolvían
para ayudar a ratificar. Poca gente percibe la acción del diablo. Algunas que
perciben prefieren no mencionar esto, porque no tienen energías para combatir
algo tan grande,
Por esto, una de las preguntas
importantes, a ser llevados en consideración cuando hablamos de justicia de
género y predicación, es apuntar para la situación de total desequilibrio
existente. Y es necesario mostrar lo que no condice con la justicia –
cualquiera de eso pueda ir en contra de algunos textos bíblicos. En este caso, la
función de quien predica es predicar contra el texto bíblico – con el auxilio del
Espírito Santo.
Hablando desde el púlpito sobre desigualdad e injusticia
de género, apuntar para casos de violencia, por si solos ya es dar pasos
gigantes. Cuando mujeres perciben que estés son temas que están en la lista de
preocupaciones de la ministra o del ministro y, por conseguirte, de la Iglesia,
ellas pasan a tener esperanza de que haya espacio donde encontrar apoyo.
Así como las palabras pueden
matar, las palabras pronunciadas y escuchadas en la hora correcta, también
pueden cambiar rumbos, transformar vidas, traer esperanza, desintegrar la
depresión. Existen palabras que matan: “El examen mostró una mancha en su
hígado”, o “usted está despedido”, o “el marido es la cabeza de la familia”. Pero también son las palabras que traen vida de vuelta: “la
mancha desapareció del examen médico”, “usted está contratada”, “es una niña, ¡Felicitaciones!”,
“las mujeres y los hombres criados a la imagen de Dios”, “fue para la libertad
que Cristo nos libero”.
Romper el silencio que
malignamente envuelve las injusticias de género puede ser el inicio de un tiempo
nuevo, de manera especial para las mujeres, las grandes víctimas de este pecado
individual y social. Las palabras pueden traer vida.
La Predicación como la oportunidad de romper paradigmas
A pesar de todos los avances
tecnológicos y todas las facilidades de entretenimiento que hoy se presentan,
aún muchas personas ven, en la palabra de la Iglesia, una voz importante. De aquello que ella dice, afirma y tiende a
ser llevado en consideración, especialmente por las personas que forman parte
de ella.
El culto aún es
un momento privilegiado en que la atención de 20, 50, 100, 500 o de 1.000 personas
están a la disposición de quien prédica. Una predicación bien preparada, bien
fundamentada, realizada de manera cautivante y creativa, es capaz de traer nuevos
horizontes a las costumbres antiguas. Uno de estas costumbres antiguas,
solidificadas, arraigadas, cristalizados,
que necesitan ser cuestionados y combatidos, dice respecto a la
dominación que los hombres son creados y enseñados a ejercer sobre las mujeres.
Una buena prédica, una prédica
bien fundamentada, si Dios así lo decide, puede ser un nuevo comienzo, un nuevo
punto de partida, sino para toda una comunidad, por lo menos para una, de ellas
o tres personas. Facilitar un encuentro de las personas con el relato bíblico,
conducirlas para que entren en la historia y experimenten lo que acontece, puede
ser el inicio de una vida nueva. Una realidad en que una relación equitativa
entre los géneros es experimentada, es una realidad más saludable y feliz para
todas las personas.
La hermenéutica de la sospecha, desenvuelta
por la sabiduría feminista, se torna extremamente importante en la búsqueda por
nuevos paradigmas. Ella puede ayudar a recuperar personajes olvidadas, no
citadas, negadas, silenciadas en los textos bíblicos. Puede mostrar el papel fundante
que las mujeres ejercieron en la historia de la Iglesia. Puede despertar la
curiosidad y dar lugar a la conclusión de
que las mujeres, desde siempre, tuvieron otros papeles además de “baño, mesa e cama”.
Tal hermenéutica puede ayudar a
nuevos resultados, a buscar significado en las lagunas, en las brechas, en las
ausencias; y, por el beneficio de su propia flexibilidad, puede recomponer-se y
reinventar-se delante de nuevas preguntas.
Teorías de género, igualmente,
pueden ayudar a cuestionar construcciones epistemológicas desenvueltas para
mantener los hombres en el poder. Necesitan ser estudiadas, asimiladas,
discutidas, especialmente en los centros de formación teológica.
La Predicación como creación de un espacio seguro
Cambiar paradigmas, traer novedades,
apuntar para lo nuevo, puede ser extremamente libertador. Personas que se sienten
liberadas pueden decir exactamente lo que las hace sentir así. Pero también lo
nuevo puede ser doloroso, traer sufrimiento. Romper paradigmas significa
alterar rutinas, transformar papeles, subvertir órdenes dadas. Eso nunca es
fácil. Por eso, la misma predicación que busca romper paradigmas puede también
ayudar a confortar. Primero, mostrar la situación pecaminosa en que muchas
relaciones se encuentran, a partir del momento en que hay dominación de un género
sobre el otro. Después, mostrar de donde viene la fuerza impulsadora de cambio,
de donde viene el fundamento para la justicia que se quiere.
Víctimas de violencia sabe de los
riesgos que corren al no aceptar más la violencia impuesta. Para cada tentativa
de liberación hay reacciones diametralmente opuestas. Basta mirar en los feminicidios,
la cantidad de casos en que la mujer estaba intentando liberarse. Por ello, la
predicación que denuncia las violaciones de los derechos de las mujeres
necesita hacerlo sobre una plataforma de apoyo más amplio, con posibilidades de
apuntar para los espacios colectivos de reflexión y apoyo mutuo, incluyendo la
posibilidad de designar ayuda profesional especializada.
También es necesario que haya
continuidad. No se trata de un único abordaje en la semana internacional de
lucha contra la violencia de las mujeres.
Se trata de un tema continuo. Las reflexiones levantadas en las predicaciones, las
experiencias proporcionadas a partir del oír, pueden contar con otros espacios
para ser profundizadas, debatidas, cuestionadas, masticadas. Pienso en los
grupos de estudio, grupos de oración, en los encuentros de las organizaciones
pertenecientes y que actúan en la vida comunitaria.
Considerando la realidad
diabólica de la estructuración patriarcal existente en la casi totalidad de las
sociedades y teniendo en el horizonte que la mayoría de las personas que
participan de la iglesia es mujer, justicia de género no es apenas temas de la
predicación como también paradigma para la ciencia homiléptica. Toda y
cualquier predicación necesita ser confrontada con la pregunta: ¿Qué significa
esto para las mujeres? Y, cómo esto nos ayuda a traer un poco más de equilibrio
para las relaciones entre los hombres y las mujeres.
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