quarta-feira, 7 de outubro de 2015

MULHERES DA REFORMA: Árgula de Crumbach

MULHERES DA REFORMA

Árgula de Grumbach

            Quando completou 10 anos, em 1502, seu pai presenteou-a com uma Bíblia. Era mulher; sabia ler e escrever. Não leu o livro, por ordem de seu confessor. Havia o temor de que pensasse “bobagens”. Na época havia muitos que estavam a se desencaminhar. Jovem ainda, Árgula de Stauff vem a ser dama de companhia da duquesa Kunigunde, em Munique, mulher de muita oração. Em 1509, seus pais morrem, vitimados pela peste. Por volta de 1516, casa-se com nobre da Francônia, Frederico de Grumbach.
            A localidade é pequena, mas Árgula não está isolada do mundo. Espalatino, secretário de Frederico da Saxônia, protetor e amigo de Lutero, envia-lhe relação de todas as obras alemãs do reformador. Speratus, autor do hino Chegou a nós a salvação (HPD 156), faz chegar, em 1522, carta de Árgula às mãos de Lutero. Entrementes, Árgula releu tantas vezes a Bíblia dada pelo pai que se torna grande conhecedora de seu texto e viu a verdadeira luz brilhar. Da Bíblia lhe vem tal certeza de fé que afirma que, mesmo que Lutero negasse suas convicções, ela não o faria, pois não me baseio em sua, minha ou outra razão, mas na verdadeira rocha, Cristo. Suas posições estão baseadas na convicção adquirida na leitura da Bíblia e logo se manifestarão em público.
            Seu irmão Marcelo, estudante em Ingolstadt, informa-a sobre tendências presentes na Universidade. Os duques bávaros publicam, em 1522, edito contra novas correntes religiosas, mas os estudantes liam Erasmo e as idéias de Wittenberg se faziam presentes. Um franciscano afirmava que a ceia devia ser recebida sob ambas as espécies, o professor de grego, João Agrícola, correspondia com o pregador Osiander, em Nürnberg. Em 1523, o Arsácio Seehofer, ex-aluno de Melanchthon, se confessa culpado de haver lido as cartas de Paulo, sob a orientação de Meleanchthon e de Atanásio (295-373)!! Sob tortura, nega suas convicções e é aprisionado em um mosteiro bávaro. Árgula chora. Tudo está a acontecer próximo a ela. Os homens, que defendem as mesmas convicções de Arsácio, silenciam. Ela, então, escreve carta ao Reitor e aos professores de Ingolstadt, cita Mateus 10.32 e Lucas 9.26 e, baseando-se na autoridade de seu batismo, pergunta: Mostrai-me, senhores professores, onde se encontra na Bíblia, que Cristo ou seus apóstolos tenham encarcerado, queimado ou assassinado ou banido alguém... Não vos escrevi lero-lero de mulher, mas a Palavra de Deus, como membro da Igreja cristã, ante a qual as portas do inferno não prevalecerão. No mesmo dia, envia carta ao duque Guilherme, em Munique. Sua carta à Universidade foi impressa e divulgada. O chanceler da Universidade oficia ao esposo de Árgula, mandando que cale a boca, pois segundo prática cristã é proibido às mulheres ensinar na Igreja. Espalham-se boatos. Um pregador refere-se a Árgula como “cadela herética” que segue o espírito de Lutero. Um primo sugere a seu marido, após este haver perdido seus cargos, que ela seja emparedada. Ela responde que já está a sofrer o bastante sob sua tutela, mas que isso não a afastará da fé de seus pais. Gente simples a defende, os professores universitários a atacam. Por fim, Lutero também intervém, pois todos os porcos bávaros passaram a freqüentar a escola de Ingolstadt e lá se tornaram mestres e professores da Universidade.

            Anos depois, Arsácio foge do mosteiro e se torna pregador em Württemberg. Os parentes de Árgula mudam de opinião, alguns se tornam luteranos. Ainda assim, ela não se cansa de escrever. Exerce o Sacerdócio de todos os crentes. Sua própria situação não melhora. Ainda em 1528, Lutero envia carta de Árgula a Espalatino, na qual relata toda a sua dor. Nos anos em que as primeiros fogueiras queimam simpatizantes da Reforma, Árgula está a educar seus filhos. Em 1530, durante a dieta de Augsburgo, visita Lutero na fortaleza de Corburgo. Neste mesmo ano, faleceu seu esposo. Tornou a casar, mas o segundo esposo, evangélico, falece em pouco tempo. Em 1563 é presa pela segunda vez sob a acusação de haver levado pessoas a abandonar a antiga fé. Tem, então, 70 anos. Sai, ainda, da prisão e falece cinco anos mais tarde, em 1568. Não sabemos onde foi sepultada. Só podemos mirar-lhe a fé. 

Autoria: Martim N. Dreher

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