MULHERES DA REFORMA
ELIZABETH DE BRANDEBURG
Fugir por causa da fé
Nos últimos
500 anos, muita gente teve que fugir por causa de sua fé e para poder
preservá-la. Essas pessoas ajudaram-nos a conquistar direito que se tornou
inegociável para a humanidade: o direito de escolha, de opção. Para que isso fosse
possível, muitos perderam sua vida, seus bens, romperam laços familiares. Quem
tem sobrenome como Zerbien ou Trebien lembra os evangélicos que tiveram que
deixar Salzburgo, na Áustria, por causa de sua fé. Quem assina Ravache,
Toillier, Dupont, Devantier, Quinot nos faz lembrar a noite de São Bartolomeu,
na qual milhares de cristãos evangélicos franceses foram assassinados por causa
de sua fé ou, sobrevivendo, tiveram que emigrar. Cristina, rainha da Suécia,
teve que renunciar ao trono e viver na Itália, quando se converteu da fé
evangélica para o catolicismo.
Pouco
conhecida é a vida de Elisabeth, princesa de Brandenburgo. Elisabeth nasceu na
Dinamarca, filha do rei João II e da rainha Cristina. Era sobrinha de
Frederico, o Sábio, príncipe-eleitor da Saxônia, o grande protetor de Lutero. Aos
17 anos, em 1502, casou com Joaquim I, príncipe-eleitor de Brandenburgo, e
tornou-se mãe de cinco crianças. Seu marido tornou-se ferrenho adversário da
causa evangélica, juntamente com seu irmão, o Cardeal Alberto de Mainz.
Dificuldades no matrimônio, no qual amor e fidelidade haviam desaparecido, e a
busca por consolo fizeram-na aproximar-se do movimento de reforma que vinha da
atividade e da pregação de Lutero, em Wittenberg. Mesmo
assim, não propalou, de imediato, as convicções que vinham da boa notícia do
evangelho que anuncia que Deus aceita incondicionalmente a pessoa, por graça.
Queria evitar o rompimento com o esposo. As perseguições ordenadas por Joaquim
I a adeptos da reforma causaram-lhe conflitos interiores. Por fim, na ausência
do esposo, pediu que o pregador evangélico lhe ministrasse a santa ceia sob
ambas as espécies, alcançando-lhe também o cálice. Ao saber do fato, Joaquim
temeu que a reforma, por causa “do mau exemplo” de sua esposa, viesse a se espalhar
pelo território de Brandenburgo. Invadiu os aposentos da esposa, dirigiu-lhe
palavras violentas e, por fim, ameaçou lançá-la na prisão e ali algemá-la.
Temendo que a ira do rei contra sua pessoa pudesse ser transferida para a gente
simples que aceitara a fé evangélica e temendo que o rei perseguisse também os pastores,
resolveu deixar o território onde era rainha. Na noite de 25 para 26 de março
de 1528, vestindo roupas de camponesa, acompanhada por uma camareira e por dois
ajudantes de ordem, deixou o território num carro de bois. Foi acolhida por
João da Saxônia, seu primo. Anos antes, diversas monjas de Cistér haviam fugido
de seu mosteiro, também em uma carroça, acondicionadas em barricas de peixe.
Entre elas estava Catarina von Bora, desde 1525 esposa de Lutero. Elisabeth
permaneceu neste exílio, por vezes enfrentando necessidade, até a morte do
esposo, em 1535. De imediato, seus filhos a trouxeram de volta ao território.
Quatro anos mais tarde, seu filho Joaquim II, acompanhado de toda a corte, e na
companhia da mãe, receberia em Spandau, hoje um subúrbio de Berlim, a santa
ceia sob ambas as espécies, das mãos do bispo de Brandenburgo, Mathias von
Jagow. Com este ato, a reforma estava introduzida no território de
Brandenburgo. No dia seguinte, agora na catedral de Berlim, seria novamente celebrada
a santa ceia segundo rito evangélico.
Elisabeth
viveria até o fim de sua vida, 9 de junho de 1555, em Spandau. Em sua
residência celebravam-se, diariamente, cultos evangélicos, nos quais muitas
vezes leu o evangelho ou o sermão do Livro de Pregações, elaborado por Lutero.
Foi, assim, uma das primeiras mulheres luteranas a assumir funções pastorais.
Seus descendentes governariam a Alemanha até o final da primeira guerra
mundial. Lutero designava-a de “minha querida comadre”, o que está a indicar
que deve ter sido madrinha de uma de suas crianças.
Autoria: Martin
N. Dreher
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