sexta-feira, 28 de março de 2014

TERCEIRO BLOCO

NA CONSTRUÇÃO DE HERMENÊUTICA
E METODOLOGIA FEMINISTAS LUTERANAS

 por Ivoni Richter Reimer

Com base na apresentação 
no Encontro de Red de Luteranas 
São Leopoldo – 2013


“Ler significa reler e compreender; cada um lê com os olhos que tem e interpreta a partir de onde os pés pisam” (BOFF, 1997)



HUMANISMO / ILUMINISMO

Este período é marcado por descobertas e rupturas em várias áreas de conhecimento. Há mudanças de sistemas sociais e econômicos. Há profundos conflitos religiosos, entre eles, o questionamento do poder absolutista da hierarquia eclesiástica e os abusos econômicos vinculados com o exercício deste poder, em prejuízo ou descaso da maioria da população empobrecida, crianças e mulheres. Há avanços significativos nas ciências, como a invenção da imprensa e a descoberta de ‘novos’ mundos. Dá-se destaque aos estudos empíricos e uma inversão na perspectiva teocêntrica das coisas e do mundo para uma antropocêntrica. Há um efervescente retorno aos clássicos, isto é, aos textos filosóficos gregos e às línguas originais da Bíblia, o hebraico e o grego. 

Movimento da Reforma Protestante
É nesse contexto que ocorrem os estudos, as inquietações e as contribuições teológicas, hermenêuticas e linguísticas de Lutero, que tem como data histórica divisória o dia 31 de outubro de 1517 (fixação das 95 Teses na porta da igreja de Wittemberg). Traduziu as línguas bíblicas originais para o alemão da época, afirmando que é preciso “olhar (n)a boca do povo” (Dem Volk aufs Maul schauen) para traduzir a Palavra de Deus e torná-la compreensível. Em seus estudos, preleções e escrita de comentários há uma ênfase no sentido literal do texto que carrega em si também o sentido ‘espiritual’. Um dos princípios hermenêuticos básicos (sola scriptura) torna-se significativo no processo interpretativo nos confrontos com a política eclesiástica: sendo que o povo agora tinha acesso à Bíblia, as pessoas aprendiam a ler (e escrever), cada indivíduo também tornava-se sujeito da interpretação. Aqui se realiza a tentativa de superar o controle feito pelo Magistério de Roma.

A Contra-Reforma
A reação ao movimento da Reforma Protestante veio rápida e forte, tanto em apoio quanto em reprimenda, reprovação e excomunhão. Mencionamos, aqui, apenas alguns momentos e eventos significativos nesse processo: o Concílio de Trento (1543-1546) reafirmou o latim como língua oficial da igreja, ratificou as decisões conciliares (dogmas), entre elas a venda das indulgências, reagiu fortemente contra espírito científico emergente (conflito razão X fé). Acentuou-se e se observou, portanto, o controle magisterial de conteúdos de doutrina e fé, também de interpretação bíblica, com seus efeitos de ‘longa duração’ (até o século XX). Mudanças começam a acontecer recém com Concílio Vaticano II (1961).

Ortodoxia Protestante
No século XVII desenvolveu-se um movimento protestante preocupado com a confessionalidade e a (observação reta da) doutrina. Conflitos internos somam-se aos externos, e acentuam as divergências havidas entre Lutero, Zwínglio e Calvino. Retomaram-se princípios confessionais afirmados no Livro de Concórdia, de 1580, e, em termos de pesquisas bíblicas, foram elaborados alguns princípios como a ‘inspiração verbal’, a ‘inerrância’ e a ‘infalibilidade’ do texto bíblico. Isto significa que, para a ortodoxia protestante, a Bíblia não erra (em) nada; a fidelidade à Palavra escrita de Deus é inquestionável. Armstrong, no livro Em nome de Deus (2001, p. 12), afirma ser esta uma forma de fundamentalismo (não só protestante) que é “uma reação contra a cultura científica e secular que nasceu no Ocidente e depois se arraigou em outras partes do mundo”.

Passos alternativos deste período
Acirram-se as fronteiras. Ao contrário da ortodoxia protestante, o filósofo holandês Baruch Spinoza (1632-1677) afirmava que a interpretação deve acontecer de acordo com o espírito científico da época, sendo que a razão humana deveria ser tomada como critério importante para resolver a dúvida metódica. Em 1670, escreve seu Tratado Teólogico-Político, no qual defende que conhecer as nervuras do real é conhecer Deus. Coloca ênfase na imanência e busca superar a noção de que Deus é apenas transcendente. Sendo judeu, foi excomungado.


Síntese Humanismo/Iluminismo
Com destaque a Lutero, começou-se a questionar a autoridade por detrás do texto e na interpretação do mesmo. Este esforço sofreu reações em vários espaços (contra-reforma, ortodoxia, judaísmo). Prepara terreno para outros caminhos alternativos.


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