quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Mulheres da Reforma

Mulheres na Reforma

por Ruthild Brakemeier

“Nenhuma Reforma sem o apoio das mulheres” – Essa afirmação do historiador Martin H. Jung pode parecer exagerada, mas, quanto mais a pesquisa histórica avança, contemplando também as mulheres, mais ela convence.

As poucas mulheres que aqui podemos mencionar mostram o quanto foram importantes na divulgação da teologia da Reforma. Elas deram um testemunho corajoso, não só porque leram escritos de Martim Lutero e outros reformadores, mas também a própria Bíblia.

Um exemplo é Árgula von Grumbach, que, aos 10 anos de idade, recebeu de seu pai uma Bíblia alemã. Isso foi em 1502, e Martim Lutero ainda não havia traduzido a Bíblia para o dialeto que se tornou a língua oficial na Alemanha. Mas já havia traduções para outros dialetos.
Árgula lia com muita dedicação sua Bíblia. Assim pôde argumentar a partir dela ao escrever uma carta aos professores da Universidade de Ingolstadt para defender um jovem professor que fora expulso por transmitir doutrinas de Filipe Melanchthon.

No início da carta, ela citava Mateus 10.32: “Todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus”. Para ela, não havia dúvida de que também as mulheres estavam aqui incluídas. Em sua carta, propôs um diálogo com os professores, príncipes governantes e quem quisesse participar, pedindo que justificassem com argumentos bíblicos a condenação do jovem professor.

Ciente de que os professores não se sentiriam livres para discutir com uma mulher, lembrava aos professores na carta que também Jesus falara com mulheres. Ousada, escreveu: “Caso acontecesse que Lutero se retratasse, o que Deus queira impedir, isso não me deverá afetar. Pois não me firmo na sua, nem na minha inteligência, nem na de outra pessoa, mas unicamente na rocha verdadeira, o próprio Cristo”.

Os professores não lhe responderam. Mas a sua carta foi impressa pelos adeptos da Reforma. Em dois meses, ela foi editada treze vezes. Na capa do folheto encontrava-se uma figura mostrando como ela, sozinha, enfrentara um grande número de pessoas eruditas, com o dedo nas Sagradas Escrituras.

A carta aos professores não foi a única publicação de Árgula. Em 1523 e 1524, foram editados mais sete de seus escritos, alcançando um total de 30.000 exemplares.

O perigo de ser mulher – Quem se manifestava a favor das ideias da Reforma corria o risco de ser punido por autoridades eclesiásticas e civis, visto que Estado e Igreja formavam uma unidade. Era até proibido ler escritos dos reformadores. Se isso já valia para os homens, muito mais para as mulheres.

Jesus havia rompido com conceitos que discriminavam e desvalorizavam a mulher. Porém eram fortes demais certas concepções, como as do filósofo Aristóteles, que havia afirmado: “A mulher é o homem incompleto, um ser passivo e receptor, cuja única função é a reprodução”. A isso se acrescentava a crendice de que a mulher é facilmente dominada pelo diabo.
Um resultado foi a perseguição às bruxas, que ganhou força depois que a prática foi reconhecida por uma bula papal em 1484. Acredita-se que, durante aproximadamente 200 anos, o total de mulheres mortas, acusadas de bruxaria, chegou a um milhão. A maioria delas foi torturada e queimada viva em praça pública.

A libertação da mulher pela Reforma – A teologia da Reforma protestante deu mais uma vez às mulheres a possibilidade de se sentir livres para manifestar-se em público. Lutero acentuava o “sacerdócio geral de todos os crentes” e recomendava a leitura da Bíblia. Mulheres como Árgula von Grumbach, Catarina Zell e muitas outras liam a Bíblia e os escritos de Lutero sentindo-se aliviadas e encorajadas a manifestar-se também.

Catarina Zell, casada com o sacerdote de Estrasburgo, que com ela aderiu ao movimento da Reforma, expressou esse alívio assim: “Senti-me como se alguém me puxasse da terra, do inferno atroz e amargo para o lindo e doce reino dos céus”. Uma passagem bíblica que lhes dava força era Joel 2.28, citado no livro de Atos 2.17, onde o profeta diz que chegará o dia em que também as filhas receberão o Espírito de Deus e profetizarão.

Catarina Zell viveu concretamente a sua fé. Na hora do sepultamento de seu marido, sentiu-se motivada a pregar. Vendo que isso gerou polêmica, justificou-se escrevendo que não pretendia o ministério do pregador ou do apóstolo. Mas, “assim como a querida Maria Madalena, sem intenção premeditada, tornou-se uma apóstola, por ter sido impelida pelo próprio Senhor a comunicar aos discípulos que Cristo ressuscitou, assim eu fiz”.

RUTHILD BRAKEMEIER é diaconisa em São Leopoldo (RS), Brasil.

FONTE: Revista NOVOLHAR - Ano 11- Edição 53 
Setembro e outubro de 2013
São Leopoldo-RS



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